O multisport surgiu no início da década de 80 na Nova Zelândia, mas foi pouco difundido pelo mundo no decorrer dos anos. Acredito que por possuir uma logística complicada, já que é difícil levar caiaques dentro de aviões e também por ser contemporâneo ao surgimento do Ironman no Havaí que foi um boom para o esporte mundial. O multisport cresceu tímido, mas vem ganhando força no Brasil e no mundo.
Além da bike e da corrida, esse triathlon com canoagem, dificilmente é praticado no asfalto e não tem as mesmas distâncias entre as provas pelo Brasil e pelo mundo.
O multisport se adapta ao terreno, percorre o inesperado e alcança o inatingível. Te desafia a ser o mais rápido naquele percurso específico ou simplesmente te leva a conhecer lugares inóspitos e desfrutar do que nossa bela natureza oferece.
As provas, assim como nas corridas de aventura, podem ser curtinhas de horas ou gigantes como é o caso do campeonato mundial, o Coast to Coast, com 243 quilômetros, mais longa que o Ironman.
Do Coast to Coast, por exemplo, saem os melhores corredores de aventura do mundo. Na atual equipe campeã mundial, a Seagate, três dos quatro principais integrantes já competiram a prova, inclusive a Sophie Hart é a atual campeã do Coast to Coast.
Outros grandes atletas já experimentaram essa aventura em alta velocidade, Chrissie Wellington, campeã mundial do Ironman em 2007, 2008, 2009 e 2011, foi segundo lugar na prova de dois dias (uma outra categoria dessa competição, onde você faz metade da prova no primeiro dia, acampa e conclui a segunda metade no segundo dia) em 2006, Andrea Hewitt foi quarto lugar, em 2005, Richard Ussher, neozelandês com o recorde de tempo em Ironman de seu país, já foi cinco vezes campeão do Coast to Coast e Dan Hugo, sul africano que já venceu diversos Xterras inclusive no Brasil competiu em 2007.
O Coast to Coast é a prova mais clássica do mundo e é peculiar aquele lugar, não poderia existir em nenhum outro local. Vai de costa oeste à leste na ilha sul da Nova Zelândia. Imaginem um Coast to Coast disputado no Brasil... impossível, pois nem duas costas nós temos, mas mesmo que atravessássemos o país de um lado ao outro, demoraríamos dias. Lá na Nova Zelândia todo mundo já fez ou tem algum parente que já encarou a prova de tão popular que é.
Ter a cultura da canoagem também facilita e muito a entrada de novos adeptos. Lá no país todos tem um caiaque, é um esporte comum, como o futebol aqui. No entanto, o mais surpreendente da prova é a etapa de corrida, são 33km entre pedras grandes e pequenas ao longo de um vale que vai afunilando até atingirmos um passo e descer pro outro lado. É impressionante a velocidade que os atletas passam por aquele terreno. Os 70km de canoagem no rio, uma das etapas seguintes, vira fichinha perto desse corridão. É incrível assimilar até que alguém seja capaz de correr naquele terreno.
Aqui no Brasil, já possuímos quatro provas anuais dessa modalidade e a cada ano novas competições surgem, mostrando o grande potencial que esse esporte tem. Com a terceira maior malha hidroviária do mundo, em torno de 50 mil quilômetros e mais de 9 mil quilômetros de costa o que não nos faltam são opções de percurso. Aventurar-se com segurança e poder ir sozinho ou em equipe, assim como outra competição qualquer, mas sempre com uma pitada de rusticidade é a forma de popularizar esse esporte e aproximar a natureza ao dia a dia de cada um. Pedalando, correndo e remando podemos atravessar o mundo ou simplesmente arrumar uma ótima desculpa para sair da cidade.