Às 03h30min da manhã de terça feira, deixamos o PC 18 rumo a 80 km de trekking. Era o fim da segunda noite de prova. Naquele momento, ocupávamos a segunda posição e isso nos deu energia para seguir em frente. A motivação fez com que esquecêssemos o planejamento que era de dormir na segunda noite, mas o medo de ter outras equipes nos ultrapassando, enquanto estivéssemos dormindo, nos deixou alerta.
A motivação é a condição do organismo que influencia a orientação para um objetivo. É a força que nos norteia, nos faz pensar e agir da melhor forma que julgamos a cada momento. É o segredo de uma grande equipe de corrida de aventura.
A placa indicava que ali era a Serra das Lontras, mas o mapa na escala 1:100 000, nos dava pouca informação e referências. Estávamos enclausurados entre pequenos morros e tudo parecia igual. A noite escura complicava ainda mais as coisas, mas naquele momento o cérebro estava tímido e os cavalos soltos (entenda no post sobre eficiência).
As horas foram passando... A chuva e o frio nos lembraram o desconforto e o cansaço. A vontade de nos abrigar e descansar um pouco começou a passar por nossas cabeças, mas desvendar o mapa era mais motivante naquele momento.
Anda pr cá, anda pra lá, sobe morrote, desce morrote... As horas se passaram e amanheceu. Quatro horas atrás estávamos deixando a área de transição, não havíamos andado nem 5 quilômetros dos 80 e estávamos perdidos. Já deveríamos estar muito longe dali se tivéssemos acertado o caminho, deveríamos ter dormido.
Quando nos demos conta de todo o tempo perdido, resolvemos voltar ao último ponto realmente reconhecido por nós, o PC 18 e dali reiniciar cada passo. Apreensivos retornamos e por não ter visto nenhuma equipe durante todo esse tempo, tivemos a certeza de estar no lugar errado. Confirmamos a partir do local que se encontrava o PC que seguíamos na direção correta o que nos intrigou ainda mais. Perguntamos quantas equipes já haviam passado e a resposta foi surpreendente, nenhuma! Então como o primeiro raio de sol que brilhou naquela manhã, nos enchemos de vigor, demos meia volta e ainda levamos mais duas horas para achar o caminho entre os morrotes e finalmente seguir. A verdade é que a trilha estava o tempo todo debaixo de nosso nariz, estávamos muito certos, mas algo nos impediu de ver sua continuação, até aquele momento. Foram necessárias mais 24 horas após essas 6 perdidas e outras 6 de parada obrigatória para finalizarmos esse trecho da competição.
Manter-se motivado durante todo o trajeto foi essencial para um bom resultado. Até mesmo quando estávamos perdidos corríamos e por mais tentador que fosse basear a nossa performance em relação as outras equipes, mantínhamos o foco em nós mesmos. Privamos-nos de sono como nunca, dormindo menos de 7 horas no total de cinco noites e aprendemos que o nosso limite é ilimitado quando buscamos um mesmo objetivo. Vibramos com a mesma intensidade a vontade de ter sucesso na prova e trabalhamos em equipe, explorando as fortalezas e apoiando as fraquezas de cada um de nós.
A prova teve duração de quase 129 horas interruptas, muito mais do que qualquer equipe planejou para si. Preparamos uma prova para durar até 110 horas, mas foi necessário quase um dia a mais e assim aconteceu com todos nós que subestimamos o percurso. Tivemos que lidar com o imprevisível, lutar contra o sono, trabalhar em equipe e acima de tudo nos manter motivados da linha de largada à linha de chegada.